domingo, 13 de março de 2016

a pós-moderna tela de Platão

e ele se livrou das correntes, saiu da caverna, viu o mundo, viu as coisas,
viu o todo: a realidade.

mas quando voltou pra contar, a caverna não era mais a mesma –
não tinha mais velas,
não tinha mais sombras...

a caverna tinha apenas uma tela,
um plasma.
ele pasmo,
contou das verdades que viu

e ninguém acreditou.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

desviés

meu olhar se refaz no cotidiano
afunila no mundo – tanto menor quanto mais cresce
meu olhar se enobrece de mazelas
a mazela é uma riqueza ao avesso –
da terra que não dá direitos, nascem resistências belas.

é esse meio
o terminal que eu principio.

pra cada breu que testemunha genocídios
há sempre um sol que vem na rima – voz que se alegoria
meu olhar se desenrola num emaranhado social –
portal pra etiologia: se vejo o fato, vejo seu ancestral.

meu poema anseia doar esse portal ao mundo.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Rio

Naquelas águas mudas me criei calado.
Enramei uma margem com palavras feitas pra ficar -
Jamais sair dali -
Ver só o rio passar.

O rio seguia seu declive,
Eu gostava de embarulhar aquelas águas mudas
Tocando nelas feito um atabaque,
Abrindo sua pele até a outra margem.
Lá eu enramava metragens de palavras feitas pra voar.

A vida caminhava deste contraste
E isso era tudo.

Não havia um mundo de coisas,
Mas todas as coisas do mundo.

Havia o suficiente -
A diferença dava vazão ao rio,
Uma presença apaziguava meu frio.

domingo, 20 de julho de 2014

Deserto

Não tenho pressa.
Eu piso mais firme quando o rio seca.

Não importa o que passa por mim, nem das vistas
onde ponho -
Se contemplo o céu, o sol da Contorno, a Barra do Jardim de Alá...
Eu vejo sempre mais longe quando sonho.

Não importa silêncio, escuto melhor quando não julgo.
Não importa onde paro - sou mar e continente.
Estava aqui, já passei -
Sou transição feito mangue.
Caminho são.

Coração deserto entra mais sangue.


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

(des)encontro

aqueles olhos de mel de mim nada souberam -
por eles afaguei meus brios, com olhos vazios.
aqueles olhos de mel a mim nada deram -
olhos fugidios que mais pareciam rios prontos a desaguar.

corredeira abaixo, fui pelas horas
em busca de um tempo,
uma realidade ou dimensão
quiçá...

onde seus olhos fugidios,
encontrassem em meus olhos vazios
um espaço pra morar.


sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Cabotagem

Desejo é barco a vela que nosso ato sopra.
Navego perto do cais, folha em branco
no mar de alfabeto.
Letras que vieram na chuva - sonhos em palavras ditas -
formam o oceano.
Ao mar, são pedaços de desejos que flutuam
como oferenda à Yemanjá.
Ou, quiçá, só cinzas de um corpo cremado -
corpo que sonhou em silêncio -
e morreu
com poemas na barriga.


segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O amor e a palavra

Só existe amor em silêncio.
A palavra é só adorno de silêncio,
Camufla o amor.
Esconde o amor por trás de adereços, de fantasias que após os carnavais, são só histórias.

O amor tá por trás dos enfeites...
É puro caule, é orelha sem brinco, tá no rosto catatônico, sem expressão, é poema sem rima, é música que rádio não gosta, amor é um vão escuro, liso, sem pataquada e sem esquadro.

Só existe amor em silêncio;
Palavra é um blush mal usado.