sexta-feira, 19 de outubro de 2012



Se ainda
A cidade é de cortiça
E tem você tachada em cada edifício,

Cada missa, em cada muro,
Como um mural.

Se ainda ronda meu corpo feito uma esquizofrenia,
Quando escuto música, gargalho alto
Ou quando o tempo esfria.
Se ainda faço motim em sua porta,
Queimando os sonhos.

Se ainda esqueço, louco,
Que sou ateu, e oro aos céus,
Clamando a Papas, Espíritos, Dalai Lamas...
Se ainda minhas palavras te surram querendo te sangrar
E, depois, te assopro com Provérbios – fé que nunca esteve cá.
Se ainda há plano de voo...
(Ou não há mais voo
e se perdeu no mar?)

Não me esqueça
Se ainda...
A alma desse amor
Vaga por aí inconformada.
Se de repente os ponteiros do meu mundo
Ficaram em anti-horário,
Se de repente não há mais itinerário,
Se de repente não há mais nada.

Não me esqueça
Se ainda não há estrada e não me acho.
Se ainda nem pus um despacho na encruzilhada,
Dentro do tacho com ipeté e xinxim...
Pra ver se desata o nó
Que o seu olhar de ebó
Cegou em mim.