segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Infância

No céu, passa o avião e pinta um rastro...
Mãe, pra onde despenca esse avião?
Diz onde lhe acho!
Me bota no balanço, me balança, me olha, mas me deixa sonhar
E quem sabe eu vou voando, voando...
Até cruzar de ponta a ponta aquela parábola de fumaça,
Deslizando de patins e lááá no infinito, bater um baba com Deus.
Tá, minha mãe, eu volto; mas caio direto na gangorra!
Pula bem forte, me dá um sorriso, deixa eu correr,
Cair, ralar meu joelho, não brigue comigo.
Me deixa passar pelo arvoredo, deixa a mercê,
Deixa eu ouvir meu pai ouvir Geraldo Azevedo
E semear uns sons bonitos que hei de fazer.
Mãe, me dá um abraço sem fim...
Que vai que um dia eu viro um mal educado, um ingrato,
Vai que um dia eu não lhe conte mais estórias, não leia o jornal pra você...
Me enche de beijos,
Que vai que um dia eu viro um otário,
Vai que um dia eu me esconda atrás de um homem sério,
Um homem que só cumpre horário.
Compra um montão de chiclete e queimado,
Faz gelatina de uva, abafabanca de umbu...
Me leva, mãe, no dentista que eu menti pra você
Que já havia escovado.
Deixa eu brincar de bicicleta no museu...

Não preciso de escolta,
Eu volto.
Me ensina a gostar...
Me deixa brincar de picula no Iracema,
Deixa eu ver a menina, sonhar com a menina,
Aquela menina.
Subir no muro,
Esperar ela passar.

Sabe mãe, quando eu crescer,
Eu volto pra encontrar essa menina.
Lotarei os olhos dela com palavras,
Levarei flores,
Vou comprar uma casa na Olivia Flores.

E se mainha perguntar aonde vou...
- Vou ali matar uma saudade

E não sei se volto.